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A linha do tempo do silêncio: família espera há 2 anos respostas sobre desaparecimento de jovens

Eles teriam entrado em um sítio próximo a parque aquático em março de 2018

Texto: João Arthur Sampaio e Tais Albino

Elaine Silva tenta esquecer — sem sucesso — que Elton Carlos Nascimento Lino, o mais novo entre seus quatro irmãos, está desaparecido há quase 900 dias. São dois anos e cinco meses de uma longa espera e uma dor envolta de uma angústia incessante.

Elton Carlos, de 25 anos à época do sumiço, estaria hoje com 27. Quando ele sumiu, o filhinho de dois anos de idade ainda estava na barriga da mãe e não chegou a conhecer o pai.

Morador do Conjunto Selma Bandeira, no Benedito Bentes, parte alta da capital alagoana, o caçula saiu nas primeiras horas da manhã da sexta-feira, 30 de março de 2018, na companhia de Brunildo Matias Vitor da Silva, de 22 anos e Maxsuelto Fernandes Tenório, de 20, também desaparecidos desde então.

Eles teriam ido em direção a um sítio na Serraria, próximo ao Ecopark, tradicional parque aquático atualmente desativado, para pegar coco verde e vendê-los na praia.

Passado 24 horas sem notícias dos rapazes, os familiares foram até uma área de mata fechada na tentativa de encontrá-los vivos. No local, eles acharam objetos pessoais dos desaparecidos, como sandálias, mochila e relógio.

A Polícia Civil e o Corpo de Bombeiros de Alagoas deram início às buscas e as investigações, mas o caso permanece sem desfecho e poucas informações foram divulgadas pelo órgão à própria família das vítimas e à imprensa.

Em entrevista ao O Que Os Olhos Não Veem, a irmã de Elton Carlos, Elaine Silva, lamentou que há meses não recebe qualquer novidade sobre o andamento do inquérito policial. Ela disse que uma pessoa da família chegou a realizar um exame de DNA para comparar com uma ossada encontrada, mas não houve, até o momento, uma resposta concreta sobre o resultado.

Foi justamente a falta de esclarecimentos que fez com que ela e outras irmãs de Elton não procurassem mais informações e tentassem, a todo custo, esquecer o que aconteceu com o irmão. Sem saber o que fazer, depois de mais de dois anos sem respostas, a saída encontrada para tentar diminuir o sofrimento foi evitar falar o nome de Elton em casa.

“Cada vez que alguém toca no assunto é como se abrisse a ferida, principalmente para a minha mãe. A gente conversou com juiz, promotor, secretário, delegado, até que percebemos que não ia para frente. Não tem mais como ser resolvido, já faz dois anos. Se tivesse que ser solucionado, teria sido logo no início”, ressalta a irmã sem esperanças.

Ela conta que a família ainda convive com os familiares de Maxsuelto Fernandes, pois ele é irmão da companheira de Elton, que estava grávida quando os dois desapareceram. Apesar da convivência por causa da criança — que agora tem dois anos de vida, o assunto é evitado entre eles.

Confira infográfico com a linha do tempo desde o dia 30 de março de 2018

Infográfico elaborado por Dyego Duarte/OQOONV

 

Polícia diz ter “peça chave” para concluir investigação

Após mais de dois anos do desaparecimento e, apesar do ceticismo da família para que tanto Elton quanto os outros dois jovens sejam encontrados com vida, as investigações continuam, mas em “marcha lenta”.

Isso porque a pandemia do novo coronavírus, segundo delegado responsável pelo caso, Robervaldo Davino, do 6º Distrito Policial, causou uma diminuição no volume das apurações em todos os casos, uma vez que, metade da delegacia faz parte do grupo de risco. Consequentemente, de acordo com o responsável pelo inquérito, os prazos foram prorrogados.

“Ainda falta ouvir uma pessoa, que pode ser uma peça crucial para o procedimento investigatório, mas ela foi afastada devido a um problema de saúde e faz parte do grupo de risco da Covid-19. Estamos aguardando a pandemia passar para ouvi-la”, explicou o delegado reforçando que o nome da pessoa não poderá ser divulgado para não comprometer o processo.

Leia também –> Caso Davi da Silva: a porta aberta de uma mãe que espera há seis anos pela volta do filho

Davino também falou que o inquérito foi mandado de volta pela Justiça em dezembro de 2019, pois o relatório, independente da polícia localizar ou não, não estava concluído. Em janeiro, ele entrou de férias e em seguida houve a implantação do decreto estadual de calamidade pública em decorrência do novo coronavírus, em 20 de março.

No momento, eles também aguardam o laudo do Instituto de Criminalística (IC) de uma ossada encontrada no bairro Jacarecica, no ano retrasado.

A reportagem do O Que Os Olhos Não Veem entrou em contato com o IC. Por meio de nota o órgão estadual explicou que “o tempo de duração do exame de DNA depende da qualidade do material encontrado. Em alguns casos, a extração do DNA pode demorar e até não acontecer”.

Embora indagado, o IC não repassou mais detalhes sobre o andamento do exame deste caso específico.

Olhos Jornalismo

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