“É a memória. Sempre está na memória o mar. Qualquer situação assim, eu fecho os olhos e penso nele. Passa uma paz, e o cheiro, assim, tu sabe, chego e sinto o cheiro do mar. Quando fecho os olhos, sinto o cheiro do mar”; diz Luana Freire dos Santos, conhecida como Luana do Reggae, ícone do reggae romântico em Alagoas e estrela que fez e faz história no cenário musical, em trecho do documentário Ainda Te Amo Demais (2020), dirigido por Flávia Correia.
Um material ambicioso e gravado em 2019, mas com imagens de resgate afetivo e de resistência que transportam os hoje jovens adultos e ‘quarentões’, ao evocar as ‘pedras’ dançantes dos anos 2000, para a época dos picos da diversão noturna das discotecas. Com um toque nostálgico, o documentário inicia com áudios ao fundo de Jonathan do Nascimento Batista, o atitude de garotão, que ficou conhecido após uma entrevista num programa policial da capital — entrelaçado com imagens da vida atual de diversos artistas e militantes fiéis ao ritmo jamaicano.
Segundo a organização da obra cinematográfica — produzida pelo Coletivo Popfuzz, La Ursa e Aguda Cinema — a intenção é apresentar a cena regueira de Maceió, pensando a respeito das sobrevivências, das transformações, do repertório de gestos e referências que, insuspeitas, germinam latente no coração dos amantes do ritmo.
On-line e com visualização gratuita, o curta-metragem de Flávia Correia se aproxima dos personagens, entrevistando e acompanhando seus cotidianos, retomando imagens de arquivos e articulando um reencontro histórico com as memórias vivas do reggae alagoano, vide: Dj Thuppá, Marquinhos Rasta, Nelias do Reggae, Osvaldo Silva, Ari Consciência entre outras lendas do cenário.
Ainda te amo demais integra a programação do CachoeiraDoc 2020, uma realização da Cura e Cultura e do Grupo de Estudos e Práticas do Documentário, do Curso de Cinema e Audiovisual da UFRB, com a produção da Ritos Produções e apoio financeiro do Fundo de Cultura da Secretaria de Cultura do Governo do Estado da Bahia – Secult/BA através do Edital Setorial do Audiovisual 2019.
Como assistir
O doc está disponível gratuitamente até o dia 11 de dezembro e entre os dias 19 e 20 de dezembro. Você pode assisti-lo clicando no site a seguir: https://www.cachoeiradoc.com.br/festival/filmes/ainda-te-amo-demais/
Em abril deste ano, o O Que Os Olhos Não Veem entrevistou Luana do Reggae, afastada dos palcos e radicada atualmente em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. Confira trecho da reportagem especial abaixo ou acesse o link a seguir.
Leia mais: ‘Ainda te amo demais’: por onde anda Luana do Reggae, sucesso nos anos 2000?
O ano é 2001. O google estava surgindo, o país entrava no maior racionamento de energia de sua história, a “crise do apagão”: desencadeada pelos baixos investimentos no setor e a escassez de chuva nas regiões Nordeste e Sudeste. Abril Despedaçado, dirigido por Walter Salles, estreava nas telonas, mas nada mais importava para os jovens que frequentavam a Master Show, a Scorpions ou a Estrela do Som.
Envolvidos pelo reggae love, os finais de semana que sucederam o início do século XXI eram embalados por um tom romântico dançante. Nos toca-cds dos bairros da periferia e nas rádios comerciais e comunitárias não havia mais espaço para outro ritmo.
Ninguém segurava Luana Freire dos Santos e seus hits que fizeram muitos casais dançarem orelha a orelha nas discotecas e casas noturnas espalhadas pelos bairros da capital, nas cidades do interior e até em outros estados.
Numa Alagoas marcada pela perseguição aos ritmos musicais marginalizados e pela ausência de cobertura midiática às manifestações culturais periféricas, Luana do Reggae rompeu todas as barreiras.
Em 2005, vítima de um golpe do próprio empresário, a cantora e os seus músicos – sem suporte financeiro – não conseguiram tocar a banda para frente. O tempo passou e os sucessos “Ainda te amo demais”, “Não dá mais” e “Sei que você vai voltar para a Argentina” saíram do top 10. Sete anos depois, Luana virou notícia ao disputar eleição pelo PTN para concorrer a uma vaga na Câmara de Vereadores de União dos Palmares, na Zona da Mata alagoana. Não conquistou nem o próprio voto.
Longe dos holofotes em terras caetés e fora do cenário musical, muita gente ainda pergunta: afinal, onde está Luana do Reggae?
Por Agência Lume e Olhos Jornalismo - Felipe Ferreira, Felipe Migliani, Fernanda Calé e Jean…
Por Felipe Ferreira Apesar da urgência na adoção de câmeras corporais pelos militares da Polícia…
Por Felipe Ferreira A participação de nomes ligados a forças de segurança nas eleições tem…
Acordar pouco depois do sol nascer e enfrentar uma longa jornada até o trabalho é…
Quem, afinal, determina, os rumos da capital alagoana? No período tenso das eleições municipais, as…
A Braskem — empresa que afetou diretamente a vida de 60 mil moradores dos bairros…