Pedreiro sumiu após abordagem da PM-AL na Grota do Cigano, em Maceió

De camisa preta, Claudineide Seixas, mãe de Jonas, recebe amparo de familiares (Foto: Josian Paulino)

O desaparecimento de Jonas Seixas da Silva de 32 anos, ocorrido há dez dias na Grota do Cigano, no bairro do Jacintinho, em Maceió, volta a chamar a atenção para os casos de violência que envolvem abordagens policiais.

Apesar das informações sobre o assunto terem começado a circular, nem todas as perguntas suscitadas têm respostas. Algumas delas, contudo, ajudam a entender o ocorrido.

Como Jonas desapareceu?

Jonas desapareceu após ser abordado por policiais militares na região onde mora no último dia 9 deste mês. Minutos antes da prisão, a guarnição esteve na casa do ajudante de pedreiro. Segundo a esposa dele, Angélica Maria, os policiais invadiram a residência onde eles moram na presença de dois filhos pequenos.

O que aconteceu durante a abordagem?

Entre os becos da comunidade, de acordo com relatos de familiares e vizinhos, os militares jogaram spray de pimenta nos olhos dele e o puseram na viatura. Dois dos três policiais envolvidos na abordagem foram reconhecidos por moradores: eles foram identificados como tenente Lima e Wallace, de patente não anotada.

A PM apresentou algum mandado contra o trabalhador no local?
Segundo relatos de familiares, em nenhum momento os militares apresentaram mandados de busca e apreensão. A reportagem consultou o portal do Banco Nacional de Monitoramento de Prisões do Conselho Nacional de Justiça, sistema eletrônico que auxilia as autoridades judiciárias da justiça criminal na gestão de documentos relacionados às ordens de prisão/internação e soltura expedidas em todo o território nacional, mas não localizou qualquer mandado contra o servente de pedreiro. Essa informação pode levar a crer que a abordagem anterior ao desaparecido não teve qualquer fundamento.

Para onde a guarnição disse que Jonas Seixas seria levado?
De acordo com os agentes da Segurança Pública de Alagoas envolvidos na ação, Jonas seria encaminhado para a Central de Flagrantes de Maceió, porém minutos após a viatura sair, no final da tarde, os familiares foram até a Central e não o localizaram. A busca se estendeu, sem sucesso, para todas as delegacias da capital, hospitais e até ao Instituto Médico Legal.

Por que o caso também reacendeu um debate sobre a segurança pública em Alagoas?

Dados da Comissão dos Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil – Seccional Alagoas (OAB-AL) revelam que houve um aumento significativo no número de denúncias de casos de violência policial em Alagoas no primeiro semestre deste ano. De janeiro a junho, a Comissão registrou 14 denúncias, sendo que 10 delas ocorreram a partir do período das medidas de isolamento social decretadas pelo Governo de Alagoas na terceira semana de março. Isso representa 71% do total.

De acordo com o documento apresentado pela Comissão ao presidente da OAB-AL, Nivaldo Barbosa Júnior, no mesmo período de 2019 foram registrados 11 casos. Os relatos do levantamento atual variam entre invasão domiciliar, agressão, ameaça, tortura, roubo, homicídio e desaparecimento, e envolvem tanto policiais civis quanto militares.

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O que diz a PM?
Sobre o assunto, a Polícia Militar de Alagoas (PM-AL) informou – por meio de sua assessoria de comunicação – que a Corregedoria do órgão recebeu a denúncia feita sobre o caso e deu início aos trâmites legais quanto à investigação.

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