Crime aconteceu no GBarbosa, localizado na Feirinha do Tabuleiro, parte alta da capital
Atualizada às 12h40 para acréscimo de nota do estabelecimento comercial
Texto: Géssika Costa e Jean Albuquerque
Fotos: Ésio Melo/ Peterson Couto
Dois dias após a morte de João Alberto Silveira Freitas (Beto), um homem negro de 40 anos, assassinado por seguranças do supermercado Carrefour, em Porto Alegre, um jovem negro de 19 anos foi agredido e torturado no supermercado GBarbosa, localizado na Feirinha do Tabuleiro, parte alta da capital alagoana.
No Boletim de Ocorrência (BO) registrado na Central de Flagrantes, no último domingo (22), o rapaz, que trabalha como jardineiro, revelou que foi agredido, filmado e obrigado a confessar que tinha furtado o aparelho para não sofrer mais agressões.
No documento, o profissional explicou que foi abordado por um homem que se identificou como policial e o levou até uma sala nas dependências do estabelecimento comercial, no momento que estava olhando o celular no balcão de eletrônicos.
A vítima, que prefere não ser identificada, relatou ainda que foi ao supermercado por volta das 10h30 da manhã, levando R$ 1.090 em espécie para comprar o aparelho.
O advogado do jovem, Basille Cristophoulos, disse à reportagem do O Que Os Olhos Não Veem que está provocando as autoridades para que a vítima tenha justiça.
“Estamos pressionando as instituições para que o caso ganhe repercussão e possamos ter uma resposta. Vamos buscar uma reparação por esse dano causado pelo supermercado e uma punição para quem praticou esses crimes. A família está muito acuada, mas já estamos percorrendo os órgãos para ter todo o apoio que for possível”, informou o advogado.
A Ordem dos Advogados do Brasil Seccional Alagoas (OAB-AL), por meio da Comissão de Promoção de Igualdade Social, está acompanhando o caso e emitiu uma nota repudiando a agressão e tortura sofridas.
A entidade destacou que o caso ocorreu um dia após o Dia da Consciência Negra e dois dias após a morte de João Alberto, espancado por seguranças em um supermercado no Rio Grande do Sul. A Ordem salientou ainda a urgência de medidas concretas e afirmativas na luta antirrascista, que afeta vidas negras.
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Nesta sexta-feira (27), a secretária da Mulher e dos Direitos Humanos, Maria Silva, e a superintendente de Políticas para os Direitos Humanos e Igualdade Racial, Mirabel Alves receberam a vítima e se colocaram à disposição, oferecendo acompanhamento jurídico.
“Diariamente acompanhamos e buscamos justiça para casos de racismo e de agressão contra a comunidade negra, como também de violação dos direitos humanos em todo o Estado. É inadmissível que em 2020 ainda existam pessoas que são julgadas pela cor da sua pele, pelo seu cabelo ou pelas roupas que utilizam. A Semudh está aqui para trabalhar no enfrentamento e no combate de toda e qualquer agressão aos direitos humanos da população alagoana. Um País civilizado e democrático não pode conviver com esse tipo de barbárie”, afirmou Maria Silva.
A denúncia de tortura está sendo investigada pelo delegado Odenberg Paranhos. O presidente do inquérito disse que solicitou imagens de circuito interno de segurança do supermercado para dar continuidade à investigação.
Neste sábado (28), uma manifestação em frente ao estabelecimento comercial reuniu dezenas de pessoas para pedir pedir justiça e chamar a atenção da sociedade para os casos de racismo e violência contra a juventude negra no Estado.
Com cartazes e panfletos, os manifestantes se concentraram na Praça da Caixa D´Água, na região conhecida como Bomba do Gonzaga e caminharam em direção ao supermercado.
O que diz o G Barbosa
Em contato com a reportagem do O Que Os Olhos Não Veem, a assessoria do GBarbosa informou que repudia qualquer manifestação de racismo ou violência, conforme descrito em seu código de ética, e não medirá esforços para que toda a situação seja devidamente esclarecida.
O setor ressaltou ainda que um dos empregados envolvidos no espancamento da vítima foi identificado e demitido por quebra de procedimento e que as imagens internas do estabelecimento comercial foram entregues à Polícia Civil para averiguação.
Confira a nota na íntegra:
Um dos nossos colaboradores já foi ouvido na presente data, conforme intimação realizada pelo delegado, e estamos realizando as investigações com o apoio da polícia militar. Identificamos quebra de procedimento interno por parte de um dos nossos colaboradores e, por isso, ele foi desligado. Conforme alinhado com o delegado responsável pelo caso, as imagens internas serão entregues amanhã, dia 25/11. Até o presente momento não há confirmação do exame de corpo delito nos autos do inquérito policial.
No sábado, dia 21/11, o indivíduo que reconhecemos, através de testemunhas, como sendo a mesma pessoa esteve novamente na loja, em dois horários distintos, no mesmo local do furto realizado na quarta-feira, próximo aos celulares, momento em que foi abordado.
A polícia então foi acionada pela equipe do GBarbosa. Na ocasião, a polícia decidiu por sua liberação no sábado por não haver flagrante (objeto de furto) ou sinais de violência física. No mesmo dia (21/11) foi registrado um boletim de ocorrência por parte da empresa relatando o crime de furto praticado no dia 18/11 e tentativa no dia 21/11. Registramos que o exame de corpo delito por parte do indivíduo só foi realizado dia 23/11. A respeito da denúncia de agressão, estamos realizando uma apuração interna rigorosa, pois não compactuamos com atos de violência de qualquer natureza. As imagens do circuito interno de TV serão disponibilizadas às autoridades competentes para apoiar na investigação policial.
O GBarbosa repudia qualquer manifestação de racismo ou violência, conforme descrito em seu código de ética, e não medirá esforços para que toda a situação seja devidamente esclarecida.